ASSUNÇÃO E NATIVIDADE DE MARIA
Em 15 de agosto a Igreja celebra sempre a Assunção de Maria
ao céu. A celebração mariana mais próxima liturgicamente falando é a festa da
Natividade de Maria 8 de Setembro. Parecendo acontecimentos cronologicamente
tão distantes a verdade é que a festa comemorativa da Assunção de Maria ao céu
(15 de Agosto) e a festa comemorativa do seu nascimento para este mundo
(Natividade - 08 de Setembro) aparecem intrinsecamente ligadas. Ao ser a
Senhora Assumpta ao céu, Maria entra no Absoluto de Deus. Não sabemos como (se
passando ou não pela morte), nada disso é importante, mas gosto da forma como
Augusto Gil, poeta da Guarda, contornou o problema: “ e a pendida fronte ainda
mais pendeu, e a sonhar com Deus, em Deus adormeceu”. Era assim em termos
idênticos que o povo cristão primitivamente chamava a esta festa: “ a Dormição
de Nossa Senhora”.
A Assunção de Maria acaba por ser a Festa do seu nascimento
definitivo na casa do Pai, ela que fora constituída como casa de Deus e a porta
do céu; A Assunção é a festa do reencontro de Maria com o Seu Filho
ressuscitado, agora de modo real na Casa do Pai: “Porque me procuráveis? Não
sabíeis que devia estar na casa de meu Pai?”.
Para mim, a festa da Assunção é também a Festa do matrimónio
em plenitude. Da plenitude do matrimónio de Maria e José: “Aí nem se casam, nem
serão dados em casamento”. Mais do que anjos, Maria e José serão sempre a Mãe
de Deus e o Esposo de Maria. Na Assunção de Maria ao céu, há o reencontro como
casal, que foram e são. A alegria do permanecerem juntos e em Deus. Talvez
seja, (é certamente) o paradigma familiar dos casais que, aqui na terra e em
Igreja, se tornaram e foram “sacramento do Amor de Deus”. Nessa situação, penso
estarem os nossos pais… E tantas e tantas outras famílias nossas conhecidas.
Assim se entende o poeta quando canta:
“ E ámanhã, quando a
morte, de mansinho,
Vier pedir ao Mundo o
nosso adeus,
Hão-de os anjos cantar
devagarinho:
- Terão na eternidade
um só caminho,
Pois são só um do outro
e os dois de Deus!”.
A morte é pois, a meu ver, a última Natividade em Deus. O ser
concebido e o ser dado à luz, é não só a nossa natividade terrena, mas também a
nossa natividade divina pois que o Amor que nos acalenta e estende os braços,
que nos acaricia e alimenta, que agasalha e nos vela no sono, que sorri para
nós e ensina a amar outro não é senão o amor de Deus expresso de modo sublime
pelos mensageiros deles e que nos são mais caros. Faz pois, pleno sentido a
proximidade das festas da Assunção de Maria e a sua Natividade. Factos reais
diferentes, realidades teológicas bem próximas. A meu ver, urge atualizar em
nós esta dinâmica espiritual: Ir celebrando simultaneamente os mistérios da
nossa natividade terrena e da nossa natividade divina. Isto acontece mediante
os sacramentos do Batismo, do Crisma e da Eucaristia. Nestes três sacramentos
verifica-se: o Morrer para e o ressuscitar em. Melhor dizendo: o subir ao Céu
(Assunção) e o permanecer em Deus, pois que o nosso nascimento para este mundo
tem de ser m contínuo viver em Deus. A nossa partida deste mundo o definitivo e
perene nascimento em Deus.
“ Faltava ainda nove
meses para que a santíssima virgem visse a luz do mundo e já era objeto da mais
terna afeição da SS. ma Trindade. O Padre eterno via em Maria a Sua filha predileta,
o Filho anelava para que ela fosse a Sua mãe e o Espírito Santo amava-a como
Sua esposa muito querida”. (Luz e Vida, Amigo da Verdade, Janeiro, 1932, nº 304) - D. João de
Oliveira Matos .
Guarda 2014-09-01
Assistente Geral
P. Alfredo Pinheiro Neves