quinta-feira, 7 de novembro de 2013

UM MISTO DE TRISTEZA E ALEGRIA...


Ir. Felicidade:
Não ficaria a bem com a minha consciência se não escrevesse algo sobre
a Ir. Alcide. Se pudessem colocar no Blog da Liga estas palavras e a foto que envio, agradecia.
 

O testemunho de uma missionária

            Ao receber a notícia da morte da Ir. Alcide, ainda que esperada, vários foram os meus sentimentos: de tristeza pela sua partida de quem ainda havia muito a esperar; de ação de graças pelo bem imenso feito ao longo da sua vida; de paz interior, que nasce da certeza que a vida após a morte é um encontro com o amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus que ofereceu a sua vida por nós.
            Conheci a Ir. Alcide desde os meus primeiros anos de sacerdote, mas foram os últimos seis anos que me ajudaram a perceber o segredo da sua vida e a sua ânsia missionária. Estou certo que a parábola do Evangelho, ela a viveu de um modo muito generoso: o tesouro não é para ficar escondido no campo, mas para ser distribuído por todos.
            A fundação da Liga dos Servos de Jesus em Angola não foi fácil: o envelhecimento dos membros da Liga, a aventura do desconhecido e o encontro com novas culturas, as dificuldades burocráticas e económicas que se colocavam á expansão do carisma encontraram na Ir. Alcide uma fé generosa a lançar-se nesta aventura. Já antes, ainda jovem, sonhara com a missão, como horizonte da sua vocação. Mas foi nos últimos cinco anos que esse sonho se concretizou. Estou a ver a alegria do envio missionário no dia 17 de fevereiro de 2008, na nossa Sé Catedral, a partida no dia 11 de agosto desse mesmo ano e as experiências da missão por ela narradas.
            Na segunda-feira anterior à sua partida para o Pai visitei-a no seu leito de dor. Ao pedir-lhe que oferecesse os seus sofrimentos pela Liga, disse-me que «tudo já estava oferecido». Dias antes tinha confidenciado que, por ela, pedissem perdão a todas as irmãs por tudo quanto de mal tinha feito e lhe desculpassem os seus erros e omissões.
            A fundação da Liga em Angola, na missão ad gentes, está agora mais enraizada. Costuma dizer-se que uma nova fundação só se realiza quando um dos fundadores morre pelo povo ao qual é enviado. O seu corpo jaz no cemitério da Arrifana, ao lado de muitas companheiras de ideal, mas o seu coração ficou em Angola. Nela se realizaram as palavras do Senhor D. João: «Desejamos ser servos de Jesus, desejamos ser seus apóstolos? Procuremos que só o Mestre seja louvado e glorificado por todos, não ambicionemos outra recompensa, senão o maior louvor e glória do Senhor. Seremos, assim, servos de Jesus e os seus maiores amigos».
+ António Manuel Moiteiro Ramos